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Segundas-feiras: O rito secreto para um começo feliz

 


Uma crônica para despentear a rotina

A segunda-feira, minha velha conhecida, aparece toda semana com sua aura de vilã das manhãs, vestida de cinza e cheiro de chuva, mesmo quando o céu está azul. Acordo e vejo o mundo conspirando contra o bom humor, como se tivesse sido decretado universalmente: “Hoje ninguém sorri de verdade”. Mas, no meu quarto pequeno, invadido por luzes tímidas que atravessam a persiana, decido que a segunda-feira, por mais irritante que seja, pode, sim, ser o trampolim secreto para uma semana feliz.

O segredo? Não está nos manuais de produtividade, nem nos posts motivacionais que pipocam nas redes sociais; o truque está em brincar com a segunda-feira, como quem desafia o chefe num jogo de futebol, ou aprende a rir das próprias trapalhadas. Porque alegria de verdade não se compra na sexta, não se reserva para o sábado. Ela pode brotar, silenciosa e rebelde, justamente no começo da semana, quando todos se esquecem de procurá-la.

O ritual do despertar

Começo pela teoria do “despertar sem raiva”. Não é fácil. O despertador me empurra para fora do sono como quem joga um gato na piscina, mas ao invés de xingar o mundo, faço uma pausa. Fico ali, deitado, ouvindo o barulho do ventilador, deixando os minutos escorrerem. Ao invés de pular da cama, penso em algo absurdo: que tal levantar sorrindo? Nem precisa aquele sorriso de comercial de pasta de dente, basta desenhar um meio sorriso, quase um segredo. O corpo sente, a mente agradece, e a segunda-feira ganha uma cor inesperada.

Vou até a janela e deixo o ar da manhã me acordar. Olhar para fora é descobrir que o mundo não está tão ruim assim. Tem gente apressada, cachorro passeando, crianças indo para escola, e aquele senhor que sempre varre a calçada com um boné vermelho. Eles também começaram a segunda-feira. Alguns parecem cansados, outros trazem uma esperança escondida nos olhos. Nessa hora, percebo que não estou sozinho: somos todos sobreviventes da segunda-feira.

Café: o elixir secreto

Na cozinha, há um ritual quase sagrado. O cheiro do café invade o espaço, misturando-se com a memória de domingos tranquilos. Tomo o café devagar, nada de pressa, porque a pressa é inimiga da alegria. Enquanto a xícara esquenta minhas mãos, penso nos planos da semana. Não grandes metas, mas pequenas missões: terminar um livro, ligar para um amigo, aprender uma receita nova, escrever um poema bobo. A segunda-feira é espaço para sonhos pequenos, que cabem na palma da mão.

É nesse momento que invento um mantra para mim: “Hoje, tudo pode ser diferente.” Não importa o que aconteceu na sexta, nem o drama do fim de semana. Segunda é página em branco. Se der errado, ninguém espera que dê certo mesmo. E se der certo, o mérito é todo meu.

A música que desamarra a alma

Depois do café, coloco uma música. Pode ser aquela trilha empolgada que me faz sentir protagonista de filme adolescente, ou então um samba baixinho, só para desafiar o marasmo. A música mexe com o ar do quarto, afasta a preguiça, convida a alegria a sentar-se ao meu lado. Aprendi que cada segunda tem seu ritmo, e cabe a mim escolher a trilha sonora. Uma segunda-feira sem música é como bolo sem recheio: falta o tempero, falta a surpresa.

O encontro com o espelho

Antes de sair, encaro o espelho. Não para julgar olheiras ou cabelos despenteados, mas para perguntar a mim mesmo: “O que você vai fazer para se divertir hoje?” Pode parecer bobagem, mas funciona. A alegria, dizem, começa na expectativa. Então crio pequenas expectativas: uma piada nova, uma conversa inesperada, admirar a cor do céu ou procurar aquele cachorro engraçado que sempre late para os carros. O espelho não responde, mas dá uma piscadinha cúmplice. Somos ali, só eu e a segunda-feira, prontos para o duelo.

O caminho para o mundo

Saio de casa com a mochila nas costas, me sentindo quase um explorador. A rua está cheia de gente apressada que esqueceu de sorrir. Eu, rebelde, dou um bom dia para a primeira pessoa que cruza meu caminho. Às vezes, o retorno é um olhar assustado, como se eu fosse algum tipo de alienígena otimista. Outras vezes, ganho um sorriso tímido, desses que iluminam até os cantos mais escuros da manhã.

No ponto de ônibus, observo os outros. Cada rosto conta uma história: o estudante nervoso para a prova, o trabalhador sonâmbulo, a senhora que distribui balas para os netos. Todos estão começando a semana, todos carregam um pouco de esperança, mesmo que escondida. Gosto de pensar que, se todo mundo decidisse sorrir na segunda-feira, o mundo teria menos brigas e mais abraços no final do expediente.

O trabalho e a arte de rir de si mesmo

No trabalho, ou na escola, ou seja lá onde for, faço questão de rir das pequenas tragédias cotidianas. Derrubar café, esquecer um compromisso, receber aquele e-mail chato. Transformo tudo isso em histórias para contar. Meus colegas acham que sou otimista, mas na verdade sou apenas alguém que prefere gargalhar do que reclamar. O segredo é não levar a segunda-feira tão a sério. Ela não vai durar para sempre, e cada minuto sombrio é um convite para inventar luz.

Às vezes, proponho desafios bobos: elogiar alguém, inventar uma história absurda, desenhar uma estrela na folha do caderno. O objetivo é simples: plantar pequenas alegrias e colher sorrisos. Segunda-feira é fértil para quem sabe cuidar da alegria.

O almoço como celebração

Hora do almoço, hora de celebrar. Não precisa banquete, basta saborear o prato com atenção. Presto atenção nas conversas, nos gestos, nos detalhes. Um almoço de segunda é como ensaio para a semana: se conseguir aproveitar, o resto dos dias será mais leve. Converso com colegas, escuto histórias, aprendo receitas novas ou simplesmente observo a dança dos talheres. A alegria está onde menos se espera.

O pós-almoço e os planos para depois

Depois do almoço, o sono pesa, mas a esperança persiste. Planejo algo divertido para depois do expediente: ver um filme, caminhar no parque, aprender uma palavra nova em outra língua, escrever uma carta para o futuro eu. Descobri que a segunda-feira fica mais alegre quando tem promessa de diversão no final.

O entardecer e a gratidão

No fim da tarde, com o sol espiando entre os prédios, faço um balanço do dia. O que deu certo? O que foi engraçado? O que posso melhorar? Agradeço por tudo, inclusive pelos tropeços. Dou risada das pequenas derrotas, comemoro as vitórias invisíveis, e prometo a mim mesmo que amanhã será ainda melhor.

A noite e o descanso

Chego em casa, cansado, mas feliz. A segunda-feira, que no começo parecia um monstro, virou companhia agradável. Janto algo leve, vejo um episódio da série preferida, e antes de dormir, escrevo três coisas boas que aconteceram. Descobri que a alegria, mesmo tímida, gosta de ser lembrada.

Uma receita para a semana inteira

O truque para alegrar a semana, descobri, não está em esperar pela sexta-feira. Está em tratar cada segunda como uma oportunidade de recomeço, de experimentar o novo, de brincar com a rotina. Não é fácil, admito, mas é possível. Basta coragem para desafiar o mau humor coletivo e curiosidade para encontrar alegria nos detalhes.

No final das contas, segunda-feira é só o início de uma história que pode ser escrita de mil formas. E, como jovem escritor, prefiro escolher as palavras mais leves, as cores mais vivas, e os finais mais surpreendentes. Porque, no fundo, o mundo precisa de mais gente que saiba sorrir cedo.

Então, se você me perguntar como iniciar uma segunda-feira para alegrar a semana, direi que a fórmula não é secreta: um sorriso tímido, um café devagar, uma trilha sonora escolhida a dedo, coragem para ser gentil e disposição para rir de si mesmo. O resto, acredite, a segunda-feira revela para quem está disposto a olhar.

Alcenir Borges Sousa Junior

Coautoria: Copilot

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