O Dia em que Toin Não se Encontrou
Uma
crônica sobre o vazio, o tédio e a esperança discreta
Manhã
sem Mistério
Toin
acordou com o sol batendo no rosto, como quem invade sem pedir licença. A alma,
por sua vez, parecia querer fugir pelas frestas da janela. Era segunda-feira,
mas podia muito bem ser quarta ou sábado — os dias, ultimamente, se misturavam
numa massa sem formato. Da cama, enxergava o teto que já não guardava segredos
e o ventilador, com sua dança repetitiva, parecia rir da falta de novidades.
Rotina
sem Cor
Levantou-se
no automático: sem fome, sem pressa, sem motivação. O café esfriou na xícara,
abandonado; o pão dormido parecia mais animado do que ele. Sentou-se na rede,
não esperando nada, apenas que o tempo passasse — como aquele ônibus que a
gente vê chegar, mas torce pra não ter que pegar. Mas o tempo, esse cretino,
resolveu parar justo ali, bem ao lado de Toin.
Pensamentos
Invasivos
Os
pensamentos vieram devagarinho, como quem não quer incomodar. Primeiro, um
sussurro: “E se eu tivesse seguido aquela ideia de abrir um negócio?” Depois,
já mais ousados: “Será que alguém realmente nota minha existência?” E, por fim,
os mais cruéis: “Talvez eu seja mesmo um fracasso.” Toin não os chamou, mas
eles chegaram, sentaram no sofá da mente e começaram a fumar cigarros de
dúvida, enchendo o ambiente de fumaça pesada.
Fugas
Frustradas
Toin
tentou se distrair com música, mas cada letra parecia abrir uma ferida nova.
Tentou limpar a casa, mas percebeu que vazio não sai com vassoura. Tentou
dormir, mas o travesseiro se transformou em tribunal, julgando cada escolha e
cada silêncio. O dia foi passando sem trilha sonora, apenas com o barulho dos
próprios pensamentos.
Crepúsculo
e Respiro
No
fim da tarde, Toin saiu pra ver o céu. O azul já se entregava ao laranja, num
espetáculo que ele quase não percebeu. O vento soprava, manso, como quem diz
que tudo passa — até mesmo o tédio. Toin não se sentiu melhor, mas também não
pior. Era como se o universo sussurrasse: “Hoje não deu, mas amanhã talvez.”
Epilogo:
Conversando com o Tédio
Toin
voltou pra casa. Não venceu os pensamentos, mas também não foi derrotado.
Amanhã, quem sabe, o tédio não acorda. E se acordar, talvez Toin já tenha
aprendido a conversar com ele, ou ao menos, a deixá-lo sentar na rede sem tanto
peso no peito.
Alcenir Borges Sousa Junior

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