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A Criação do Universo segundo a Visão Celta

 


O Caos Primordial

No princípio não havia Terra, Céu ou Mar. Havia apenas um vazio gelado e um silêncio tão profundo que sequer o tempo existia. Nesse espaço etéreo, as forças ancestrais aguardavam, invisíveis, até que o Awen — a inspiração divina — despertasse. Esse sopro sagrado rompeu o silêncio e trouxe a centelha da vida ao nada.


As Primeiras Entidades e o Awen Infinito

Do Awen brotaram três deusas primordiais, filhas da grande Danu:

  • Eriu, dona da terra fértil e do mistério do crescimento
  • Banba, senhora das águas correntes e das marés eternas
  • Fódla, guardiã dos ventos e dos segredos do firmamento

Essas três formaram o primeiro triskelion, símbolo dos ciclos de criação, preservação e transformação. Cada rodopio desse símbolo espalhava Awen, fazendo o vazio vibrar de potencial.


Emergência dos Quatro Elementos

Quando as deusas sopraram o universo, quatro correntes elementares se desvendaram:

  1. Fogo — ardendo na forja cósmica, gerador de paixão e mudança
  2. Água — fluindo dos poços de sabedoria, propulsora da cura e do renascimento
  3. Terra — abrigo fértil para todas as formas de vida e memória ancestral
  4. Ar — mensageiro dos segredos, conectando céu e solo em harmonia

Esses elementos, em constante dança, moldaram montanhas, rios, florestas e céus estrelados. Cada estrela era uma fagulha de Awen, atraindo seres ainda por vir.


Nascimento dos Tuatha Dé Danann

Quando o mundo se firmou, surgiram os Tuatha Dé Danann, “Povo da Deusa Danu”. Vindos de outros domínios — o Sidhe — trouxeram consigo dons únicos:

  • Ogma, mestre das letras e do eloquente saber
  • Brigid, tecelã de poesia, cura e fogo sagrado
  • Lugh, artesão supremo, cuja lança percorria todas as artes e habilidades

Com seus poderes, esculpiram vales, cavaram poços mágicos e traçaram o traçado invisível das trilhas espirituais que uniriam o mundo físico ao outro mundo.


Os Ciclos Cósmicos e a Evolução Permanente

A criação, para os celtas, não foi um evento uma única vez, mas um fluxo contínuo. Cada era encerrava-se num confronto de forças — como as grandes batalhas dos Tuatha Dé Danann contra os Fomorianos — e renascia em equilíbrio renovado. Essa alternância reflete a própria vida: semente, broto, floração, colheita, repouso e germinação.


O Legado Vivo do Universo Celta

Hoje, a visão celta do cosmos nos ensina que o universo é uma tapeçaria viva. Cada sopro de vento, cada fagulha no céu e cada gota de orvalho carrega a lembrança de Danu e de suas filhas. Quando contemplamos uma floresta, sentimos as pulsações do Awen; ao ouvir um riacho, sussurros de Banba ecoam em nossos corações.


 Alcenir Borges Sousa Junior

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