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Pequenas Grandes Aventuras

 

Quando o extraordinário mora nos detalhes

Era uma vez um conjunto de aventuras que, para a maioria dos olhos, passaria despercebido. Talvez fossem vistas como bobagens, caprichos ou, no máximo, distrações inocentes para quem vive esperando grandes feitos e reviravoltas cinematográficas. Mas, para quem as viveu, eram épicos pessoais, repletos de emoções, significados secretos e uma alegria impossível de traduzir.

Certa vez, decidi atravessar a cidade inteira apenas para experimentar um novo sabor de sorvete. Não era um dia particularmente especial, tampouco um sabor desconhecido para a humanidade, mas para mim, aquela busca era uma expedição: cada esquina trazia o suspense do inesperado, cada ônibus que atrasava era como um rio revolto a ser vencido. Cheguei à sorveteria exausta, mas triunfante. O sorvete tinha gosto de vitória, e guardei a lembrança desse feito como quem carrega uma medalha.

Noutra ocasião, resolvi passar a noite acordada só para assistir ao nascer do sol do topo de um prédio antigo, daqueles esquecidos no tempo, sem nenhum luxo além de uma bela vista. Levei um cobertor, um livro e um café requentado. A aventura não envolvia mapas ou perigos, mas exigia uma coragem silenciosa: desafiar o sono, o tédio e a solidão. Quando os primeiros raios iluminaram a cidade, senti que era testemunha de um segredo reservado a poucos. O mundo ainda dormia, mas ali, no alto, eu reinava.

Quantas vezes já não organizei expedições para caçar livros em sebos escondidos ou para encontrar aquela cafeteria que só alguém com olhos atentos enxergaria? Para uns, era pura perda de tempo. Para mim, era um mergulho em universos paralelos, cheios de personagens e cafés quentes, onde cada página ou gole continha a promessa de uma surpresa.



A verdade é que as grandes aventuras nem sempre são aquelas que rendem histórias de bravura ou registram recordes. Muitas vezes, são travessias miúdas, desafios diários, pequenas loucuras que fazem o coração bater fora do compasso. São jornadas que só fazem sentido para quem as percorre, mas, justamente por isso, tornam-se tão preciosas.

Cada um carrega em si uma coleção de façanhas invisíveis, incompreendidas ou até ridicularizadas. Mas, no fim das contas, são essas experiências — por mais bobas que pareçam — que nos pertencem de verdade. Porque a grandeza das nossas aventuras não se mede pelo olhar dos outros, mas pela intensidade com que as vivemos.

Quem nunca viveu uma epopeia particular, que atire a primeira pedra. Ou, melhor ainda, que saia em busca de sua própria aventura — mesmo que, para o resto do mundo, seja apenas mais uma besteira.

Alcenir Borges Sousa Junior


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